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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Um Parágrafo

  Me disseram que a vida ainda não sabe o que quer da gente. É por isso que eu não consigo realizar nada do que me proponho. A vida fica na frente, essa vagabunda.  Chamo-me Robsenvaldo e não gosto de colocação enclítica, apenas a escrevo assim porque me disseram que é o certo. Sempre faço as coisas porque me disseram que é certo. Mas, recordando agora, já fiz muita coisa que as pessoas me falaram pra não fazer. Só que eram coisas pequenininhas, nada tão contrário a tudo. Talvez um parcialmente contrário por exemplo pegar uma das ruas sem ser as indicadas. "Sua avó fazia colchas de casal com retalhos e cinco por cinco centímetros..." sussurra uma voz no meu cérebro. Eu sei que ela quer dizer que "Existe o efeito bola-de-neve-que-desce-o-morro." ou que, mais precisamente "De boas intenções o inferno está cheio."... Não suporto mais esse assunto, desculpem. Ah, o meu nome se pronuncia só Rosenvaldo...O "b" quem pôs foi o meu pai, por algum motivo que não faço ideia qual é. Imagino que seja algo como raiva de mamãe, porque eles tinham brigado assim que minha mãe acabara de me parir, pois ela insistia que ele me registrasse no cartório naquele exato momento e ele queria esperar pra ver ela dar o peito pra mim pela primeira vez. Dizem que as mães têm que estar tranquilas na primeira sugada do nenê, mas a minha não estava. Talvez por isso eu seja assim. Falando em "eu"... não espera, eu estava enumerando os motivos de meu pai ter me registrado com um "b" no meio do nome. Então... Um era raiva de mamãe e o outro motivo provável era uma raiva contida, tímida, que ele guardava desde o Ensino Infantil. Eu sei que caçoavam dele - o nome dele é Flantropício - então prefiro ignorar essa parte. Afinal... É só um "b"... Está ali enfeitando um pouco a palavra, rebuscando um pouco. Isso não te interessa, eu sei. Mas vou contar. Simplesmente porque preciso contar. Voltando a quando eu disse "Falando em 'eu'..." há, no máximo dois minutos (se tiver demorado mais que isso, me desculpe, meu amigo, mas você tem que aprender a ler mais rápido...), vamos continuar: Falando em eu, eu descobri que você está me lendo há tantas linhas e não sabe nada sobre realmente quem eu sou. Não sabe se sou negro, branco, alto, gordo, magro, baixo. Não sabe a cor dos meus olhos, cabelos, dentes e roupas. É isso mesmo. E aposto que já está me imaginando de alguma forma. Não interessa. Você sabe algo sobre mim sim - muita coisa, na verdade... Aposto que se ler com atenção vai perceber. E é isso que demora: Perceber. Quando você deixa passar... Não tem mais volta. Bom, não te interessa. Não tenho culpa de me chama Robsenvaldo, nome registrado por meu pai, por um motivo desconhecido. Sabe que sou neto de uma senhora que faz colchas de casal com retalhos e cinco por cinco centímetros. Sabe que eu sou complexado por não conseguir cumprir nada do que proponho. E assim seguimos. Já sabe muito sobre eu, Rosbenvaldo, pro meu gosto. Muito mesmo. Está na hora de trocar de máscara, com licença...