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sábado, 27 de dezembro de 2014

Vívido


Cara Tilde,
Francamente. O que aconteceu com esses azuis nesse Natal? Essas luzes tão fortes e tão azuis até me atrapalharam de sentir o clima natalino esse ano. Quem foi que disse que cor de Natal é azul? O Natal é vermelho! Aconchegante, quente. Ou dourado, glamoroso, rico, brilhante. Até pra gente que é pobre, faz a gente se sentir rico. Quem sabe a gente abra uma exceção pras luzes multicor, que são, a seu modo, charmosinhas.
Mas azul-boate? De forma alguma, nunca foi. E essa droga de cidade está toda decorada com essas luzes escrotas.
Essas ruas confusas... Muita idênticas! Muita casa igual! Será que se esqueceram de tentar personalizar as coisas? Acho que ninguém tem tempo pra isso nesses dias. Essas luzes desnecessárias. Esse verão quente... Essa obsolescência programada que mata qualquer coitado que queira se manter atualizado. A coitada da Cotinha, da loja, vive juntando dinheiro pra comprar esses celulares novos. Bobagem dela, tem mais coisa na vida. Crueldade usarem o nascimento de Jesus pra aumentarem as vendas. Se bem que tem o décimo terceiro, se não aumentassem as vendas, não iam conseguir pagar a gente. De onde vem todo esse dinheiro que esse povo arruma no fim do ano? Viagem, Natal, virada de ano, salário, imposto. Eu que não sei, não tenho isso. Devo o salário do mês que vem...! Olha, sinceramente, estou mesmo é cansada. Com tanta coisa pra fazer nem vi o fim de ano chegando, logo eu, que sempre fui inteiramente clima natalino, a vida toda. O que me pesa nem é isso, é a frustração, sabe.
Digo, o que fiz nesse ano? Passou e nem sequer percebi! Mudei quem sou? Não. Comecei alguma faculdade, como disse que começaria? Também não. Nem estudar pra concurso não estudei. Fiz o meu Ensino Médio muito bem, numa escola boa. Saí pra casar e quebrei a cara. O que me salva é a leitura. Estou é até hoje presa naquela porcaria de loja, empregada escrava de ricaços que nem sabem que eu existo. Eles sim! Eles que devem ter um Natal magnífico, com direito a perus assados e aquelas frutas charmosas do oriente... Macadâmias, uvas passas, sei-lá-zinhas. É isso mesmo, não é?
Ainda tive, nesse fim de ano, a tal Complicação. Os dias que passei internada foram desgastantes e horríveis...!
Você se lembra do Natal que a gente distribuiu sopa para os moradores de rua? Aposto que esses ricaços não sabem o que é isso. Foi bom. Parece que, quanto mais simples, mais verdadeiro.
O que aconteceu, hein? Bom, sei que, nesse momento, acabando de escrever esse email pra você, eu vou me arrumar e arrumar Toninho e sair pra passar Natal com Gustavo e seus parentes. Ao menos tem Gustavo na minha vida. É um bom companheiro. Faz tudo pra agradar a gente e eu também faço pra agradar ele. E é até bonito, acho que demais pra mim. Mas deu na telha dele noivar com uma mulher como eu, só resta aceitar. Só vou ficar esperta, pois não sofro mais como sofri com Wanderlei. Dona Vitória, mãe dele, se tornou também a minha mãe e é muito boa pra mim.
Bruna, da loja, diz que eu sou recatada demais, fria demais, que minha boceta deve ser congelada. Disse que eu me tratasse, cuidasse do cabelo, tirasse essas saias jeans horríveis, que nem sou religiosa e coisa e tal. Que eu devo até ficar bonita se me arrumar. Disse que eu devo ter feito macumba ou passado café na calcinha pra amarrar Gustavo. E que desse graças a Deus por ter segurado ele “até agora”. “Até agora”! que ordinária. Fica é com inveja. E não tiro a saia jeans, eu gosto!
Toninho se curou da caxumba. Está um menino forte e esperto. Fez sete anos. Graças a Deus, ele entende a dificuldade da mãe e não dá muito trabalho. Se dá super bem com Gustavo e é a única pessoa que ainda me faz sentir o clima natalino. Acho que ele vai amar o tratorzinho que comprei pra ele.
Sinto sua falta. Tenho certeza que por aí está tudo bem. Conforta-me saber que, assim que eu clicar Enviar, esse email vai chegar a sua caixa de entrada. Inquieta-me saber, que você nunca vai ler. Já se foram dois anos, querida Tilde, e eu ainda não me acostumei com a ideia de que você acabou debaixo de um ônibus... Nunca vou me acostumar. Não devia ter ido tão cedo...!
Mas a vida segue. Um dia melhora, se não piorar.


Atenciosamente, C. L.
(...)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O Assobiador


  Chamava-se João. João alguma-coisa, não lembro bem o que. Não importa também.
  Desde os 6 anos, que foi quando João aprendeu a assobiar, ele assobiava o tempo todo. Era a coisa que João mais gostava de fazer no mundo. Assobiava, quando criança, brincando com seus carrinhos e com seus inventos, sempre derivados do que seria descartado na cozinha. Até brincando de esconde-esconde ele assobiava e isso fazia sempre com que ele fosse encontrado. Ele não se importava, era algo que não podia
evitar. Era só ficar um tempinho parado em silêncio que vinha a vontade irresistível de fazer um som. Assobiava, na adolescência, no caminho de ida e volta da escola, no cinema, daquela primeira vez que beijou, na hora das provas, o que sempre causava qualquer problema.
   Depois de um tempo, ao perceber que em alguns momentos, assobiar lhe causava problemas, João foi inventando outros tipos de assobio. Havia o assobio grave, o assobio de chamar alguém, o assobio agudíssimo, o assobio despistado, que ele não precisava fazer o movimento de boca convencional, e até mesmo o assobio silencioso, no qual ele imaginava-se assobiando sem assobiar de fato, que era em momentos de prova, em que não poderia haver barulho. João inventou até um jeito de falar assobiando ao mesmo tempo, e fazia verdadeiros concertos pra si mesmo. Esses ele não tinha coragem de mostrar a ninguém.
   João assobiou tanto que, com o passar dos anos, o assobio foi ganhando um verdadeiro significado na sua vida. Era uma parte dele. Um pedaço que seria impossível retirar sem dor. Por isso os vários tipos de assobios, pra se adequar às várias situações. Havia também, por trás deles, toda uma filosofia. Era o que ele fazia para ajudar a melhorar o mundo. Se ele assobiava trazia música para as pessoas ao redor, tornava o dia das pessoas mais colorido e mais claro. Assobio lhe lembrava liberdade, alegria, leveza e graça. Era sua poesia sem palavras. Era o que lhe fazia feliz, mesmo quando a melodia era triste.
   Durante toda a sua vida, João assobiou por todo o lugar que passava. Se não se lembrava de alguma música, inventava. Assobiava músicas tristes e músicas felizes, dependia do seu humor. Era fato que nunca parava de assobiar.
   Um dia, estava João feliz voltando para casa, assobiando uma canção de violino que ouvira ontem. O dia estava claro! Cláudia, a vizinha, sorriu para ele: "Continue sempre a assobiar, canarinho." Seu Jove, da sanfona o convidou para um pequeno dueto sanfona-assobio. As pessoas pararam para ver. Casais se abraçavam, olhos de criança brilhavam. Quando acabou de assobia, João continuou o caminho. Dona Gantina, na praça com seus pombos, cumprimentou-o de longe, satisfeita por ouvir mais uma vez aquelas notas que saíam da "boca abençoada", como ela chamava.
   Mais à frente havia um inesperado objeto na calçada. Um boneco, o mesmo que ele tivera na infância, o que era a sua primeira lembrança. Ele se abaixou pra pegar e algo escuro o envolveu.
   A partir desse dia, João passou todos os outros numa grande e pouco confortável gaiola, assobiando cada dia menos melodias alegres, depois nem mesmo as tristes, até parar de vez de assobiar.

(...)

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Na Feira

  Molar queria muito, muito, muito viajar nas costas de uma borboleta.
  As criaturas rondavam a campina. E a música animada produzida pelas Pedras se infiltrava em cada ser.
  Cada uma era mais bonita que a outra e cada uma era bonita à sua forma. Mesmo os cascudos sirilões ou os craquelados peixes-fora-d'água com seus aquários na cabeça eram bonitos. E rodavam ao redor deles borboletas de todas as cores e tamanhos que poderiam existir. Inclusive, a Borboleta Mãe, que sobrevoava tudo aquilo com sua envergadura de três metros e com as asas mais detalhadas que qualquer outro ser. Os seres humanos se dividiam entre adeptos da magia e leigos, que tinham ido até lá apenas pra checar os produtos que existiam. Pequenos preás com suas roupinhas de algodão verde e rosa, de modelo rebuscado, cheias de dobras e redobras corriam sob os pés de todos, apressados em resolver suas questões. De uma carruagem amarelo canário desceu a tão temida máfia dos pinguins, sérios, altivos e engravatados. Os simpáticos bus, cuja estrutura física não passava de bolas flutuantes de pelo multicor, esvoaçavam por todo o canto e um deles até entrou na garganta do mais idoso dos sacis, que engasgou e morreu, virando pó levíssimo e vermelho, que demorou dois dias pra se dispersar. E, no meio de tudo aquilo, a pequena Molar, segurando na mão sua boneca de trapo com os olhos de botões desiguais. 
  Ela subiu numa árvore e começou a observar as atividades. A Dama de Sete Metros se agachava nesse exato momento. Pegou uma grande rede de caçar borboletas e começou a rir e correr, querendo pegar na rede a Borboleta Mãe, fazendo o chão tremer e a barraca de uma tamanduá cair. Cinquenta crianças de todos os tipos se encontravam sentadas, escutando as histórias contadas pelo Professor Tatu, o ser mais falante da feira.
  Molar sorriu e teve certeza que ali era seu lugar. Desde que seguira o bu aparecera para ela, brilhando e dançando no seu quarto abafado do orfanato, pela abissal floresta de grama, ela descobrira o mundo e escalara até a cabeça de um gigante. E A Dama estava quase pegando a gigante borboleta.
  Estava feliz. E nada ia tirar isso dela. 
  A Dama de Sete Metros finalmente consegui pegar a Borboleta Mãe, que se transformou em mil borboletas coloridas que vieram levantar Molar da árvore levá-la para mais um passeio maravilhoso, nas costas de mil borboletas, ao invés de uma só.

(...)

domingo, 12 de outubro de 2014

Negações


  Grude. Um grude denso. Puxento, melado, esquálido, nojento, enfim. Era tudo o que eu via à minha frente. E ao redor de mim. E dentro de mim. De repente eu me tornei aquilo. Nojo de mim.
  E agora não havia um movimento que eu fizesse que não deixasse gotículas por toda a área, sujando ainda mais aquele ambiente hostil. Depois de um tempo, percebi que estava respirando a mim mesmo. Não aconselho ninguém a respirar a si mesmo. No mínimo, dói.
  Fui andando. Deixei pegadas meladas por todo o lugar, que ia só diminuindo. Num acesso de plena frustração e falta de orgulho, chorei. Chorei grude. E tive nojo do meu choro. E o mundo também. E as pessoas me olharam admiradas com a capacidade que tive de me deturpar.
  Segui. Mas segui mal, meu olho embaçado. E chorava grude a todo momento.

(...)

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Sol no rosto


Primavera chegou com chuva e promessa de futuro bom,
mas logo foice e mal dela se lembra o sertão.
Uns amores solúveis nasceram ao misturar na água.
mas logo morreram, de efervescentes que são.

Os bem-te-vis daqui cresceram, reparou?
Devem estar bebendo água de fonte mutante.
Eu, não, fiquei foi mais magro.
Foi depois de tanto tentar entender a vida.

Um cuidado especial pras moças congeladas
que não vivem mais, por medo do amanhã.
Congelado também minha coragem.
Mas faz calor, logo vai derreter.

Só sei que estou feliz. Por demais.
A primavera não mostra os dentes.
É que nós todos amamos amar.
E eu é que não faço mais promessa de chuva.
Tá bom de tomar um pouco da água dos bem-te-vis.

(...)

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Retrato de uma tarde não planejada

O vento veio forte hoje.
Mentindo chuva.
Lambeu a água, a folha, meu cabelo,
o desenho, a alma, o céu inteiro.
Há doçura em estar só.
Sabiá cantou, pica-pau bicou.
E até as fadas vieram brincar.

É júbilo no meio da seca.
Feito só de esperanças,
nuvens ao longe, galhos fracos
e da risada das crianças.

(...)

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Madrugada Saudosista

 Aviso: Paciência na leitura, eu tinha muito a escrever.

  Sempre há o que ser escrito sobre saudade.
  Há um tempo uma leitora me perguntou o porquê de eu não escrever muitos textos nos quais eu, Gabriel G. Filpi, me demonstrasse como um ser humano normal, com meus problemas e defeitos, com meus sonhos e qualidades. Minha escrita, minha cara, respondi, não é bem assim. Não gosto de me expor muito, de me colocar em linhas numa nuvem virtual onde todos possam ler. Prefiro expor meus pensamentos, sonhos, defeitos  e problemas na minha poesia, na minha ficção, que é grande, minúscula, rebuscada, simplista ou elaborada dependendo unicamente de minha disposição na hora da escrita. Coisa de criação mesmo. Prefiro deixar reticências para que quem leia possa deduzir ou imaginar ou completar de sua forma, pintar com suas próprias cores, como uma gravura num livro infantil que cada um colore do jeito que bem entender. Talvez por isso alguns me elogiem muito, por eu, como escritor, não impor exatamente minhas ideias e sempre deixar espaços pra interpretação.
  Mas, ao revirar uns papéis velhos aqui em casa, só por questão de reorganização, decidi abrir alguns cadernos antigos, pra completar a completa inquietação que eu sentia durante todas essas semanas. E foi uma emoção interessantíssima a cada página que eu virava. Submergi de tal forma no passado que não vi as horas se destilarem na minha frente. A saudade foi tanta...! Me pus a pensar tanta coisa...! 
  De início, vi a prepotência de um rapaz de 18 anos que se vê como muito experiente, como muito mutável. Vi que minha essência sempre esteve aqui e que no fundo, não mudou muito não. Prepotência de gente jovem. Acho que é assim mesmo. Quantas pessoas escreveram (em acrósticos tortos, rimas pobrezinhas, rápidas e apressadas e pequenos textos escritos em letra grande para preencher logo o espaço pedido por aquele insistente garoto, em caneta Bic ou canetinha colorida ou lápis de escrever), no caderninho de mensagens que fiz ao pensar que ia mudar de escola, em 2009 - veja bem, não tanto tempo assim - sobre um menino "maluco", ou "confidente" ou "amigo"? É assim que sou hoje, é assim que sempre fui. Essa essência da gente é inata. 
  Depois, parei pra pensar e vi que realmente sou ser único e experiente - em alguns aspectos meus - e mutável. Todos somos assim. Eu, particularmente, sou, mais do que tudo, mutável. Prefiro deixar alguns aspectos de mim pros de estimo, mas isso é visível aos de convivência. É bom mudar. É bom viver intensamente. Dolorido, mas libertador e inspirador. (por "intensamente" não quero dizer necessariamente drogar-se, alcoolizar-se. Quero dizer apenas viver intensamente. Fazer das alegrias grandes alegrias, das dores grandes dores. Tem mais cor, mais magia. Sem contar que somos seres em constante construção e desconstrução, é necessária essa mudança, essa aquiescência quando, numa discussão lhe faltam argumentos, de ver que o outro pode estar certo e reorganizar seus conceitos. Deixe a Cyrus ser a ela de hoje, a de ontem foi ontem.
  Houveram também, no caderninho, várias promessas e desejos de eternidade da amizade e do sentimento. A considerar que parte daquelas pessoas eu nem sequer vi no outro ano e boa parte eu nem sequer fui próximo em época alguma, a gente pensa na efemeridade e na marcação de cada momento. Ali, elas realmente desejavam que fosse eterno. E, se pensar bem, quando dizemos qualquer um "para sempre", não estamos nos referindo precisamente à pessoa, mas ao sentimento e à construção (ou desconstrução) que ela nos proporcionou. Isso pode sim ser eterno, ainda que você não se recorde todos os dias dessas pessoas. É triste pensar que, se já sinto saudade de tempos passados, no futuro terei muito mais tempos passados pra sentir saudade. Mas vá lá, é assim mesmo. Digo isso sempre: as redes sociais e a internet geram a falsa sensação de que você vai continuar próximo de todos os seus amigos atuais durante o resto da vida, mas nunca é assim. Agora que já temos uns bons 10 anos atividade virtual acessível a todos no Brasil, podemos muito bem perceber isso. E não adianta tentar mudar! A beleza da vida está aí também.
  O que proponho a quem me lê apenas uma coisa, depois desse desabafo que com certeza é porque li excessivamente Rubem Alves e Lorena Ely; um dia, quando a disposição bater - eu sei o quanto é raro hoje em dia - e o sol estiver brilhando ou a noite estiver indo longe... revire suas gavetas! Pare um pouquinho no meio dessa vida que exige rapidez a todo momento, até pra rolar pra baixo as páginas - inclusive, se me leu até aqui, obrigado e, por favor, comente comigo a respeito - e ache suas relíquias de vida... sempre há um papelzinho que a gente guarda e se esquece que vai te trazer uma dose de passado que desce queimando a garganta, mas que dá uma sensação tão boa, um saudosismo tão gostoso. Mas cuidado... brincar com passado é perigoso: pegue uma corda, amarre uma ponta na cintura e a outra nas coisas boas do seu presente, que é pra não se afogar.
  Sempre há o que ser escrito sobre saudade.

(...)
  

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Cor

Fotografia por Diego Sanches
A dança deixa fitas
que duram quatro estações
e o menino descobre nelas
leveza e cor.

E dançando-as no ar,
impelido do sentir onipresente,
tem vislumbre de possibilidade
de sorrir seu riso.

E dançando-as no ar,
como vento de Agosto,
observa e espera,
sorri e irradia.

E é calor e esperança
assim que se verbaliza
no quente sol matinal
agraciado pelo batuque.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Querida


  Sabe, amor, aquela nossa almofada? A que o cachorro rasgou. Ela está no lixo. Mas aquele momento nosso, aquela luz que pareceu aparecer enquanto nos beijávamos, logo depois que compramos a almofada, com todas aquelas pessoas ao nosso redor... Ainda está tudo guardado em mim. Sinceramente, estou cada vez mais retraído, mais triste. É difícil. É inconsciente. É culpa da gente.
  Uma vez disse que o fim não importava, que a melhor parte era o meio, o caminho. Retiro o que disse. O fim importa. O fim é um limite chato. Se for fim de fato, vai querer dizer certeza. O ponto final torna-se algoz cruel. Adaptar-se será possível, mas difícil. Tropeço, arrasto... E assim a gente tenta seguir.
  Ao sair do cinema, naquela noite, eu só queria te abraçar. Agora prefiro falar coisas sem sentido... Pra mim fazem sentido. Guardei em mim o seu sorriso, e ele ilumina-me às vezes. Espero que o fato de eu ter colocado o seu nome no hamster que comprei não tenha te ofendido.
  É que a fenda no meu coração é grande. Até a poesia cai ali... 
 E nem todas as palavras que você gostava podem fazer uma ponte agora. É preciso ser essa coisa dramática? Pensar que era ontem que sonhávamos um filho. Brincávamos. Agora a gente cresceu e as obrigações do dia-a-dia diminuem cada vez mais a chance da gente se encontrar. O acaso não é mais nosso deus. Hoje, usamos óculos absurdos e suamos para ir ao banheiro. É, sempre tive medo que a rotina nos acabasse.
  Fui feliz com você. Juro que sim. Acho que a felicidade se foi junto com você. Ademais, duvido que haja algo que não seja finito.
  Olhe para mim, querida. Não deixe-me sofrer assim. Que essa água que sai do meu olho agora não seja em vão. E pensar que todas aquelas vezes antes eu fingi sentir dor. 
  Estávamos interrompendo a luz do outro tanto assim? Vou me rasgar. Se rasgue comigo. Alimentemo-nos com muita cautela. Dizem que o corpo é importante.
  Não pouse em vão nunca, amor, não brinque com o previsto.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Desabar

  Era tão bom que tivéssemos aquele lugar só pra gente. Ele sempre chegava próximo a uma janela qualquer pra acender um cigarro e ficar encostado nos cotovelos, com uma perna cruzada sobre a outra, como só ele sabia fazer. Fiquei deitada observando a silhueta do corpo masculino belo e nu dele. O céu era de um nostálgico cinza lá fora.
  Chamávamos ali de Buraco. Era um dos muitos apartamentos mal cuidados do prédio. A pintura estava descascando, via-se inúmeras rachaduras, o azulejo da cozinha tinha mais peças quebradas espalhadas pelo piso do que pregadas na parede. Boa parte do forro de gesso, antigamente tão belo, estava no chão e a poeira já fazia camadas. Trepadeiras, cujas sementes foram trazidas por pássaros, cresciam ao redor da pia da cozinha e numa das paredes da sala. De mobília, tínhamos apenas a velha e boa cama de molas que já abrigara nossos corpos nus tantas vezes, assim mesmo sem lençol ou travesseiros, uma geladeira quebrada que estava sempre vazia, um fogareiro a gás e uma cadeira antiga de balanço que ele herdara da sua avó.
  Não nos incomodávamos. Era bom estar num lugar que trazia à tona os seus problemas, as suas dificuldades e confusões. O Buraco estava em um dos muitos prédios abandonados naquela área. Era um dos menos pichados, inclusive. ninguém mais se importava com aquele conjunto de prédios, exceto a gente e alguns usuários de crack ocasionais. Mas o vazamento ocorrera há 80 anos e a radiação já não era mais perigosa. Muita coisa ruim aconteceu ali e alguns fantasmas ainda não tinham se desprendido. Sempre pensei que era hora de botar vida ali novamente...
  Mas, como uma maldição, todas as pessoas se esqueceram do lugar, escolheram esquecer. Tinham levado às pressas suas roupas e vidas dali. Seguiram as vidas longe. Exceto eu e ele. Duas crianças que correram e certo dia acharam um lugar. Construíram um castelo de vivências e recordações, um mundo deles. Meio macabro, pitoresco, medonho, mas, no fim das contas, deles. Quando veio a adolescência, nos tocamos e descobrimos, curiosos a anatomia um do outro. Foi bom. Tanto que decidimos carregar aquela cama velha pra lá. O colchão era empoeirado e carcomido, mas nada importava quando estávamos juntos.
  Ele, sempre muito calculista, decidiu certo dia que não queria mais ficar ali comigo apenas. Eu, moça caseira e de desejos simples, nunca entendi o porquê. Mas eu não podia segurá-lo. Tinha que "ganhar o mundo" e ninguém "entraria no meu caminho". Essa era a última vez. O cigarro acabou. O toco foi amassado. Ele pegou o meu vestido, com aquele jeito desinteressado, e jogou-o pra mim. Entendi que era o fim. Nos vestimos, ambos conscientes e saímos do quarto, andando de mãos dadas como tantas outras vezes. Mas essa era diferente. Era o adeus.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Ilustração de Karla Ruas
Vem maré alta.
Ele nada, cansa os braços.
Muda o estilo, se adéqua ao mar...
Talvez dê conta de mais um pouco.

Lírica sofrida. Autoflagelação.
Agora entende o que disse um amigo
sobre se rasgar constantemente.
Mais uma braçada.
Ri-se por ter usado o mar tantas vezes
 como metáfora
e agora agonizar nele

Mais uma braçada.
A vida é cruel. Exige força que a gente não tem.
Se ao menos eu fosse corajoso a ponto de conseguir desistir...!
Virão marés ainda mais altas.

Pessimista essa visão.
Mas será tão bom olhar para trás
e ver que a maré que enfrentei ontem é tão minúscula!

É efêmero. Tudo. Cruel e efêmero.
Só nos prepara pra aguentar ainda mais
e nos faz mais inquietos por fazer o bem.


Mais uma braçada.

(...)

sábado, 14 de junho de 2014

Patchouli

  Da janela da sua quitinete, com o copo de suco pra curar ressaca na mão, observando os barcos indo e vindo na Veneza que ele tanto amava, e acompanhando um belo por do sol rosado, Gular entendeu o verdadeiro sentido do tal jargão "Só se dá valor depois que se perde". O álcool tinha saído do corpo durante o sono e deixara sua cabeça explodindo de uma pulsante dor. Os fragmentos de memória não se encaixavam de forma alguma. Não achava que bebera tanto, mas as loucuras de ontem arrombaram sua porta e se sentaram no sofá inconvenientemente, como um vizinho que acha que é seu amigo e ficaram encarando ele com olhos julgadores.
  Gular acredita na capacidade que as coisas têm de desandar. Acredita em energias, boas e ruins, que podem influenciar as pessoas. Acredita que a merda que as pessoas influenciadas por energias negativas e por álcool têm de fazer não tem limites.
  Tirou os olhos dos barcos e do céu e se voltou pra escrivaninha, onde os lápis e cadernos estavam jogados junto com bitucas de cigarro e o incensário. Decidiu escrever um pouco, apesar de que o último texto que produzira fora a história de Pepe, o caracol. Achou um incenso jogado no chão, colocou-o no incensário e o acendeu, deixando o aroma agradável do Patchouli se espalhar aos poucos no ar. Ao escrever duas palavras, tudo o que vivera até ali naquele capítulo de sua vida voltou à tona com uma rapidez brutal e foi tudo pro papel.
  Percebeu naquele momento que a Torre de Pisa poderia ter caído, a Europa dizimada por uma bomba nuclear, a Lua nunca mais aparecer e isso não teria muito significado nada pra ele.
  Há algumas semanas, conhecera um moço. De tudo que era desproposital, nasceu algo. Gostou muito dele. E foi recíproco. Isso significou algo pra ele: significou a fraqueza óbvia de Gular em tentar controlar os seus sentimentos. Foi o fato de que Gular estava novamente caindo em amor, coisa que ele prometera não fazer tão fácil. Mas o jeito, o cheiro, o gosto, o sorriso, a estranheza e o mistério que emanavam do moço eram tão únicos e belos que foi meio involuntário criar alguma expectativa.
  Viu defeitos. Mas viu qualidades que superaram os defeitos.
  O álcool se misturou com açúcar e com a tal da energia negativa que estava rodando no ar e o drink foi amargo. Por motivos poucos e imaginados, Gular levantara o punho contra o moço e as ondulações repercutiram em todos os outros âmbitos de sua vida.
  Olhou pra cima. A fumaça de patchouli continuava a subir e as lágrimas rolaram descarrilhadas.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Alma Velha

  As juntas já doíam. As físicas e as psicológicas. Era tempo demais sentada pra ela não enlouquecer. O problema nem era estar sentada, era o que ela fazia sentada. Desenhar sempre fora para ela um hobbie para se fazer no meio de gente, com conversa, barulho. Do contrário, ela começava a pensar. E ela não conseguia encarar seus pensamentos. No dia inteiro ela tinha feito cinco desenhos bastante trabalhosos, mas não conseguia deixar pensar que estava ociosa, que não estava fazendo nada pra melhorar a vida.
  Era um relacionamento que não tinha muita coisa a ver com ela, aquele que ela tinha. Coisa bígama, polígama, quem sabe, e nem podia fazer nada pra que mudasse; ela amava tanto que preferia passar por cima do orgulho e da forma de pensar. Ela pensava não ser desse século. Era moça jovem com alma de gente que já se encarnara há muito tempo, ou muitas vezes. Anos 20! Século XVIII! Porque não nascera naquela época? Se bem que não, naquela época seria obrigada a usar aquelas roupas quentes. E a curvar-se ante aos homens. Ah, não. Nascera na época certa, sim. Decidiu se levantar um pouco do desenho pra olhar em volta, respirar. Talvez ir num lugar cheio de gente e continuar desenhando.
  Determinada, juntou seus lápis e papéis, indo direto à praça mais próxima. Gostava bastante daquele lugar.
  Era moça tão imaginativa, que amava sair do seu corpo em imaginação e ver as maiores maravilhas mundo afora. Odiava a situação, mas fora presa na terra por um amor mal resolvido, ou bem resolvido, que para ela era mal resolvido. Era tão jovem! Tinha tanto ainda a ver, a ouvir! Mas já vivera tanto... Viajara, fugira, sonhara, tivera o coração despedaçado. O mal dela era recusar-se a aceitar sua juventude.
  Ao sentar-se num dos bancos da praça, com seus óculos, anéis e botas de todo-dia, percebeu uma pequena foto antiga no chão à sua frente. Em sépia, retratava uma menina sorridente, em frente a um matagal, de uniforme escolar à moda antiga. Curiosa, pegou a foto.
  Ao virar atrás, nada viu. Nenhuma, data, nada escrito. Era um pedacinho de alguém que fora perdido. Simplesmente uma lembrança que caíra da bolsa de algum dos apressados transeuntes e agora, por acaso, viera parar com ela. Sentiu-se feliz. Sentiu saudade da infância daquela menina, mesmo que ela nem soubesse quem a menina era. Sentiu falta de algo que nunca tivera, e não soube explicar o porquê. Pensou que talvez fosse sua alma de velha que se conectou com a foto.
  Instigda, começou a divagar sobre quem seria a menina. Quem teria perdido a foto? Um primo dela? O seu filho? Ela própria? Será que essa pessoa sentia falta da foto? Aquela roupinha, aquele sorriso. O que essa foto registrava? Um primeiro dia de aula, um uniforme novo, um penteado diferente, talvez? E aquele lugar? Sua casa, sua escola, um calçamento qualquer?
  A desenhista, imediatamente esboçou no papel a foto, em tamanho bastante ampliado e pôs-se logo a trabalhar nos detalhamentos. Não conseguia deixar de pensar na menininha da foto. Estaria ela ainda viva? Será que ela sofrera de amor também, como sofria a moça?
  Um dedo cutucou timidamente a desenhista. Era um jovem barbudo, meio misterioso, de óculos quadrados.
  -O que desenha?
  -Essa foto.
  -Posso me sentar?
  -Claro.
  Sentado ao lado dela, o jovem passou a mão pelos cabelos e perguntou se a foto, por acaso estava no chão.
  -Sim. Bem ali. - e ela apontou - Oh! Era sua? - logo ela se arrependeu de usar o verbo no passado, mas era como se a foto já fosse parte da história dela!
  -Sim. É minha mãe. O primeiro dia de aula dela na escolinha, está usando o uniforme pela primeira vez. É minha única recordação dela. Ela mora do outro lado do mundo e eu gosto muito de olhar pra essa foto quando me bate a saudade. O amor dela sempre me recarrega as forças.
  -Oh, me perdoe! Tome-a de volta! - e estendeu a foto, sinceramente torcendo para que o menino soltasse um heroico não-o-que-é-isso-pode-ficar-com-ela. Mas ele apanhou a foto, abriu a mochila, agradeceu, elogiou o desenho, disse que se ela quisesse, podia terminar e saiu.
  O desenho da foto nunca foi concluído, mas posteriormente, o rascunho foi emoldurado e posto sobre a cama dela. E ela sorriu ao perceber que o amor, mesmo que torto, não a prendia na terra, mas proporcionava uma liberdade imensa pra que ela pudesse voar. A menininha da foto crescera e tivera um filho, que a amava e morava do outro lado do mundo. Ainda alguma esperança havia para ela.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Virtual

Ilustração de Guilherme Fonseca
Arqueada, ela vem seguindo.
Contorcendo-se na própria pele.
Afogando-se nos próprios cabelos.
O cansaço já nem incomoda tanto
e o burburinho não para.

Arqueadas, suas sobrancelhas cuidadas
perguntam a nós "como?"
Cabisbaixa, nossa geração não responde,
contorcendo-se numa lógica furada.

Arqueadas, as nuvens observam
o clima, o ofício e a ofensa.
O dilúvio comportamental pasma
uma sociedade estável e doente.

Arqueado, o corpo dela permanece,
pausado, sem conexão.
Agora tudo é simples.
Agora não há um só vagão.


domingo, 25 de maio de 2014

Olho Preto

Tudo parece nublado.
E o sopro é só desabafo.
Ferida que reabre imponentemente.


Mixagem de covardia, medo e destino.
Paciência que não há.
Desestabiliza no voo as penas
de pássaro horrendo.

Versos que serão esquecidos se escrevem pra lembrar
da luta que só há de ser vencida
quando a túnica do orgulho se rasgar.
E relembram distopicamente
que as coisas acontecem por um motivo.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O Pipoqueiro

  Um dia, Chico relaxava ao lado do painel que era seu ganha-pão, cheio de brincos, colares, pulseiras e anéis. Era uma tarde ensolarada de uma praça qualquer. Ele observava os transeuntes apressados e agradecia por não fazer mais parte daquilo. Foi quando o diálogo de um grupo de adolescentes no banco ao lado lhe chamou atenção:
  -Me pergunto - dizia um dos adolescentes - se os vendedores das lojas de móveis lembram-se de muitos fregueses. - os outros riram, não entendendo a profundidade da indagação do primeiro. Ele continuou - É sério! Imaginem um casal jovem comprando a mobília de sua casa, até então vazia. É a realização de um sonho! O que estes móveis representarão para eles! Neles, eles construirão um lar, edificarão uma família! Quantas e quantas vezes vão se sentar àquela mesa que estão comprando agora, quantas vezes se jogarão naquele sofá, cansados, e tirarão os sapatos? Quantas vezes vão arrumar as roupas dentro daquele guarda-roupas?
  -Quantas vezes transarão naquela cama?
  -Ah, cale a boca.
  -Isso também! Mas entenderam o meu ponto de vista? Será que o vendedor tem noção de que o  que ele vende ali é o lar que vai acompanhar o cotidiano daquele casal por anos? Será que esse vendedor se lembra dos olhares e dos sorrisos dos seus clientes?
  Um senhor idoso ia passando por ali e ouviu estas últimas palavras. Voltou à turma e pediu licença para sentar-se com eles por alguns instantes:
  -Perdoem minha intromissão, meus jovens, e não me julguem sem lucidez. Sou velho e sem muito horizonte na minha frente, ao contrário de vocês. Não pude deixar de ouvir o comentário desse curioso e perspicaz amigo de vocês. Estava falando sobre qual vendedor, meu rapaz?
  -Sobre o de móveis.
  -Do de móveis não sei lhe falar. Só digo-lhes que o único vendedor que se lembra dos seus clientes é o que faz o que faz por amor. Fui vendedor de balas, pipocas e algodões-doces. Pode parecer exagero, mas lembro-me do sorriso de cada criança e do abraço de cada casal que comprou algo na minha mão. Não posso dizer que lembro-me com detalhes de todos, pois foram 20 anos, mas guardo-os todos aqui no meu coração. Talvez pela sincera felicidade e satisfação no rosto de cada um. Vi meninos e meninas crescerem e voltarem a mim com as pessoas que amaram. O vendedor de móveis que ama vender móveis talvez se lembre do sorriso de alguns clientes e os guarde no coração. Quando atingimos uma meta, seja comprar uma bala, seja comprar a mobília, nosso sorriso é tão sincero e inocente quanto o de uma criança. É a beleza de ser humano.Quando se vive por coisas pequenas, quando se sobe um pequeno degrau de cada vez. Agora, tenho que ir que Glória me espera. Até mais!
  O velho se levantou e deixou os adolescentes e Chico silenciosos a refletir. Levantou-se da vida deles para nunca mais aparecer, e aí ficou a beleza e o mistério. Quem era esse velho? O que vivera? Quantas pessoas ajudara, com quantas brigara? A vida de Chico estava cheia de encontros assim. Como duas formigas que andam, se cumprimentam e seguem seu caminho, apesar de pertencerem ao mesmo formigueiro, que é ser humano, com todas as suas semelhanças e unicidades.
  Como que para lembrar Chico Samba que ele tinha um certo compromisso com a vida que escolhera, uma moça de saia estava parada defronte o painel e perguntou:
  -Quanto é este colar?

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Tricotando

  -Já foi a Pasárgada, mulher?
  -Jamais, nem quero ir. Não acredito em poesia, não acredito em nada. Só acredito que são todos sonhadores. Quando se trata de futuro, ninguém sabe esperar muita coisa e, quando um sabe esperar, espera a coisa errada e quebra a cara, é terrível. Foi nesse mundo corrupto e inconveniente mesmo que minha filha nasceu e eu não consigo acreditar que isso seja bom. Não foi em Pasárgada, não foi em qualquer outra Terra. Já estava a mercê das bombas assim que respirou pela primeira vez. Não acredito que haja vida em outro planeta e isso é triste, pois a gente está destruindo o único que há. 
  -Eu já acredito que haja.
  -E isso cancela o nosso erro?
  -Talvez acabemos conosco. Isso é um presente pro resto do universo.
  -Ontem foi Marta, hoje é Camila, amanhã talvez seja Otávia. Não tem vergonha, mulher? De mudar de nome e de personalidade assim? Eu mesma não mudo, não; sou simplesmente eu. 
  -Seu discurso parece profundo, sabia? pra quem não te conhece bem. Parece um discurso profundo e crítico, talvez mesmo inteligente. Não entendeu até hoje que mudar de nome, pra mim, é vida? É necessário não ser conhecida. É necessário conhecer muitas facetas de mim mesma. Fico feliz em ser assim. Chama-me de Mulher, estarei satisfeita.
  -Eu, prefiro ser eu.
  -E tem muita dúvida de quem é, ainda assim.
  -Mas me conheço melhor que você, que muda de nome. Eu convivo comigo mesma há muito mais tempo do que você já conviveu com qualquer uma de suas facetas. É terrível a humanidade porque tem muitas perguntas. Tendo muitas perguntas, busca sempre por respostas e não se aquieta jamais. Nós, velhas, já nos cansamos de perguntar e agora respondemos a várias perguntas dos outros jovens.
  -É que perto da morte a gente fica mais sábia.
  -É metafísica a morte.
  -É.

sábado, 19 de abril de 2014

Minguante

Chora.
Borra a maquiagem empoeirada.
Cadê sua cor? Onde estão os pasquins?
Uma superficialidade bruta que enoja!

Braços fortes, chora.
Braços flácidos, chora.
Chora tanto, ele, ela!
Comendo um caviar de fel, coitados.

Tá encardido, encarquilhado.
Um sopro de meditação falha.
Simplicidade indecifrável nessa solidão imunda.
Né não? Não?
Caio chorando.

De promotor a réu. De holofote a apagão.
De inferno a céu. De plateia a atração.
Julgando todos os que choram
numa iludida presunção
de quem ainda não viu nada da vida.


sexta-feira, 11 de abril de 2014

Uma Quase Desistência

  Ao ler grandes nomes da literatura, citemos Guimarães Rosa, Dostoiévski, Hermman Hesse, Fernando Pessoa, etc., percebo algumas coisas dignas de nota:
  1: Literatura é uma arte diferenciada.
  Esse é um aspecto que consta em todas as Artes. Ao ouvir a definição de cinema como "sétima arte", bate uma curiosidade, sobre a numeração delas. Riccioto Canudo, em 1912, faz um manifesto que define o cinema como sétima, tendo antes a música (som), a dança (movimento), a pintura (arte bidimensional feita à mão, ao meu ver também se enquadra aqui o desenho), a escultura (tridimensional - onde se encaixa a arquitetura também), o teatro (representado por um ou mais atores), a literatura (lírica, épica, ou dramática), e o cinema (que enquadra todas as outras). Há uma confluência imensa entre todas elas, e atualmente se veem listas de 10 ou mais artes, com o advento dessa tecnologia mais de ponta. 
  Mas não é isso que quero discutir. O que torna a literatura diferenciada (como há aspectos diferenciais em todas as artes, deve haver um aqui) é justamente a forma como o autor coloca as palavras, a emoção que consegue ou não transmitir. Pra escrever algo, precisamos ler bastante, acho que nisso todos concordamos e, se quero escrever ficção, devo ler isso. Atualmente há tanta informação que tudo acaba se misturando e a literatura vira roteiro de cinema. De forma alguma critico o cinema, ou o casamento dos dois, mas convenhamos que as melhores histórias para filmes não são as extremamente literárias, muitas vezes narradas em primeira pessoa, com uns 4 personagens principais, no máximo.
  Novamente me distancio do foco. O que me levou a escrever isso, foi a estranha sensação que me ocorreu há um tempo, a segunda coisa digna de nota:
  2: Eu jamais vou chegar aos pés desses autores.
  Esse pensamento é uma faca de dois gumes, que, se mal interpretado, pode causar alguns danos. Saiu espontaneamente e foi mal formulado. Não que eu queira ser como um escritor, como muitos dizem pejorativamente e sem muito embasamento, embolorado e velho. Tenho 18 anos e vivo no ano de 2014! Mesmo que eu quisesse, não poderia. A vida de cada um o leva a fazer o que faz. Vivo no presente, escreverei o presente.. Mas quem ama ler, há de concordar comigo que a literatura roteiro-de-cinema é um tanto vaga. Bonito, tocante e tal. Mas não falo da história! Falo do diferencial da literatura; a forma como as palavras são organizadas no papel. É a tal "superficialidade bruta que enoja" a que me refiro no poema Minguante que postarei daqui há um tempo.
  Não tenho a intenção de depreciar J.K. Rowling, John Green, Rick Riordan, Nicholas Sparks, Khaled Rosseni, Paulo Coelho, William P. Young e tantos outros escritores best-sellers (quem sou eu pra criticá-los). Comecei minha jornada com eles e sei que muitos também começaram! São histórias lindas que tocam mesmo. 
  Mas é a tal construção da palavra. Talvez eu nunca serei um escritor best-seller, mas não vou abrir mão de seguir a bela escrita dos Mestres pra vender livros. E aqui voltamos ao segundo pensamento! 
  Como faço? Se quero seguir os mestres mas sei que nunca serei como eles? Se sei que jamais vou chegar aos pés deles? Daí veio a minha quase desistência. Por um triz eu não parei de escrever e tirei esse blog do ar. Esse triz se chama alma e a minha está ligada a isso pra sempre. Senti a vontade de parar, pra depois pensar que, se não quero mudar meu teor pra vender e se não consigo escrever como eles, a única saída é ir trilhando meu próprio caminho.
  A faca de dois gumes é a interpretação certa ou errada. Depois de mudar um pouco meu jeito de olhar o pensamento mal formulado e espontâneo.
  Pronto. Só pra desabafar. Obrigado se teve a paciência de ler.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Casamento de Viúva

Deixe-me.
Que gostar de sol
Na mesma intensidade que gostar de chuva
É quase ser bissexual.

Não é todo ser que se embebeda se sol
Nem é todo ser que se envereda em si.
Lapso de loucura, Paulo.
Momento que passou e se foi.

Sou bravo
Sou forte
Sou filho da morte.
Sou o que há de ser
ingerido, que sorte!
E assim sou quase vivo,
Juca Pirama

Dos ventos que sopraram na cara do poeta
Me restou um
Que disse que sou louco.
Pois gostar de sol
E gostar de chuva
É gostar de opostos.

domingo, 23 de março de 2014

Tegredol

Monumento ao Trabalhador - Tomie Othake
  Do banco da imensa praça, Dona Gantina observava as pessoas. Não entendia direito aquela coisa de cada um andar sozinho, muitas vezes cabisbaixo, falando com um fio descendo do ouvido. 
  Dona Gantina não sabia nada sobre política além do que era comentado pelas amigas do tricô. Não sabia nada sobre tecnologia, além de que o botão verde do celular servia pra atender e o vermelho pra desligar.Nada sobre medicina além do que aprendera durante a vida com os costumes populares e com a propaganda de rádio, vinte anos atrás, que repetia que Tegredol era remédio pra doido. Mas ela não sentia falta de nada disso não.
  Ela tinha a vida que queria. Batalhara a vida toda, desde muito antes de ser chamada de "Dona". Quituteira a vida toda, tinha a pele queimada de forno e as mãos calejadas. Atualmente, ela fazia alguns doces ainda, mas só quando dava na telha. Morava com uma sua amiga, Dona Cândida, companhia desde a mocidade. Quando ela parava pra pensar, vira que sua vida não mudara tanto. O que mudou muito foi a cidade. Cresceu demais. A casa continuava a estar onde sempre esteve, frente à praça. Mas a praça não era a mesma, com aquela coisa que colocaram lá.
  Diziam uns ser arte moderna. Outros diziam ser uma linda expressão do intelecto humano. Alguns ainda falavam que era algo que cada pessoa podia enxergar o que quisesse, pois a "obra" representava a vida de cada pessoa de uma forma diferente.
  Não era. Dona Gantina olhava pra coisa nesse momento e decidiu que não era nada disso. Era só um bocado de ferro curvado. As curvas eram até bonitas, mas ela não via nada além disso.
  Alguém dirá que Dona Gantina é burra, mal instruída, ou nem um pouco imaginativa só por não ver algo na coisa? Ela não se importava. Já vivera muito pra isso. Jogou milho pros pombos, riu daquelas pessoas cabisbaixas, com suas tabas tecnológicas, acabou a colcha de tricô, se levantou e foi rebolando feliz da vida pra casa, fazer doce de anelzinho de mamão.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Lembremo-nos

A suavidade dessa existência
Está borriscada, em nós.
Que guardamos dentro d'agente
a mulher-fuligem, forte,
o homem-pedra, suado,
o menino deixado. À sorte.
a menina deixada. De lado.

Foi um grito grandioso
Carimbado nos grilhões de ouro
Que prendem o governo governante.

Sisal e aipim;
o resumo daquela vida bruta
e simples de suor no rosto.
Pau a pique.
Pau à lenha.
Pau em todos, se convenha.

Antepassados.
Dentro desses prédios existem veias
Onde corre o sangue dos desgraçados.
A venda aqui é viável, ali é viávore.
Vi a árvore que passou
de broto a toco.
Pode colocar
Sal a gosto.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Monólogo de um Velho Cansado ou O Sentido

   
   
Sete dias, é o tempo que a senhora vai ficar? Ah, desculpe lhe chamar de senhora, sou mais velho, nem faz sentido mais. Sete dias é bom; em sete dias o mundo foi criado e no sétimo dia Deus descansou. Vai descansar no sétimo dia também? Eu nem sei mais nada... Tanto livro nesse lugar e nem sei. É que, pra ser sincero, não sei ler. Tenho a audácia de dizer isso apesar de ter lido cada um dos livros dessa biblioteca desse asilo, sem contar os que li em toda a vida.
   É que meu analfabetismo não é de palavras escritas. É de algo a mais, algo que nem com palavras pode ser dito. Sou um analfabeto das emoções. Não sabes o quanto eu peno pra compreender algumas coisas.
   Desculpe a bipolaridade; sou assim mesmo. Nestes 89 anos fui assim, não é possível que eu mude daqui pra frente, não é? É que tenho uma alma bagunçada, minha jovem. E sabe o que é pior? Sei que talvez eu já esteja próximo da morte - ela parece mais próxima aqui dessa cadeira de rodas - e ainda não entendi a minha missão nessa vida aqui. Desculpe se você não acredita nisso, mas eu creio que viemos nesse mundo para cumprir alguma missão. 
   Isso me lembrou um dia quente há muito tempo atrás, talvez mais do que eu queria. Foi um dia estranho, minha cara. Eu acordei com um desânimo, com uma nuvem pesando pesada sobre meus ombros. Não sei dizer o que era. Acho que algo espiritual mesmo. Ah, minha filha. Você não acredita nisso também? Tudo bem, não vou discutir. O fato é que o dia correu vagarosamente, eu pensando em morte, eu pensando em como seria mais fácil morrer. Era uma inquietação imprópria, bárbara e muito densa; um rapaz de 19 anos pensando em testamento e em morte. Nesse dia, não lembro qual nem por que, mas uma porta tinha sido fechada na minha vida. Talvez uma das primeiras portas que se fecharam numa longuíssima jornada. A sofreguidão da idade me fez ver aquela porta fechada como todas as portas fechadas e a vontade de correr mundo teve de ser adiada. Hoje digo a você: seria sim muito mais fácil morrer ali. E morrer jovem, para que ninguém se lembrasse de mim como um velho decrépito, como você há de se lembrar. Mas eu não teria vivido os outros 70 anos da minha vida e não teria visto o quanto vi. E seria um desperdício, sabe? Vi coisas horrendas, mas vi coisas magníficas, de amor, de carinho de incondicionalismos.
   E não me arrependo de não ter morrido aquele dia. Mais tarde, no mesmo dia, eu me encontrei com pessoas que me fizeram sentir amado. E tudo passou, todos os desejos perderam o sentido.
   Mas ainda não sei o sentido da minha vinda, da minha vida. Eu te contei muita coisa agora, menina. Não que tenha contado os detalhes, mas contei como foi durante minha estadia aqui. E agora, engraçado, estou me sentindo em paz...
   Creio que está na minha hora. Talvez o sentido da minha vida tenha sido chegar até esse momento e te contar isso. Não sei ao certo o que você está passando, minha linda, mas eu sei que minha história deve ter te ajudado de alguma forma. Agora saia. Me deixe aqui nessa cadeira de rodas com os livros que me fizeram companhia por toda a vida. Não adianta protestar! Não fique, por favor! É o último pedido de um velho no fim da vida. À tarde venha buscar minha casca, creio que não precisarei dela.
  Por que me olha com esses olhos lacrimosos? Todos os que eu amava já se foram. Ficar aqui adiantará no quê? Ah, quer ficar mesmo assim. Tudo bem, incline um pouco mais minha cadeira, por favor. Obrigado. Segure minha mão então e me deixe ir. Não soluce, querida, chore silenciosamente. Estou feliz. 

(...)

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Uma Menina

  Molar brincava com a boneca pela nona vez naquela mesma noite. Era curioso ver uma garota daquela idade ter tanta destreza com trabalhos manuais. Trocava as roupas da boneca com incrível e num tempo recorde, tudo à luz da pequena lanterna sob o lençol. Brincava com a boneca como se o pano grosso e espesso que era sua pele fosse o plástico rosa e delicado daquela Barbie que vira na loja de brinquedos, brincava como se seus olhos de botão e sua boca bordada fossem parte do rosto da mais bela mulher que conhecia.
  Era curioso ver aquela cena e, no entanto, ninguém via. Era sozinha no mundo e isso a amedrontava muito, talvez por ser tão óbvio.
  Por esse motivo, Molar gostava também de espetar agulhas na sua boneca.
  Não que tivesse alguém específico em mente... faz parte de estar sozinha no mundo. Mas ela gostava de imaginar que estava se vingando de seus coleguinhas que a desprezavam, de seus professores que a subestimavam, dos inspetores que a prendiam, dos pais que a abandonaram, do mundo que a recusava, enfim. Espetava agulhas pois não tinha algo mais violento em mente. Não havia nenhuma vingança propriamente dita ao seu alcance, então enfiava agulhas na boneca.
  A boneca era muito peculiar. Era uma tentativa de fazer uma boneca fina e delicada a partir de um saco de estopa. Uma tentativa que deu errado, obviamente, e a delicadeza ficou muito macabra. Os olhos eram botões, cada um de um tamanho e um tom diferente, o maior brilhante e o menor fosco.
  O nariz era o encontro das duas metades de tecido, dividindo o rosto da boneca ao meio. A boca não passava de um coraçãozinho vermelho mal bordado.
  De braços e pernas disformes e um cablo de barbante laranja curto e puído, a boneca assustava a todas as crianças. Exceto a Molar. A garotinha de 5 anos via naquela boneca a família que nunca tivera. Adorava imaginar a procedência dela:
  -Foi da minha avó. - dissera uma vez a uma moça loira - A mãe dela que fez. Aí ela deu pra minha vó que deu pra minha mãe que me deu.
  Mesmo assim gostava de espetar agulhas nela. Ela tinha a grande vantagem de não questionar o motivo das coisas. 
  "Quem conta um conto aumenta um ponto." Encabulada com essa expressão, Molar aprendeu a sempre aumentar uma pessoa na família ao contar a história. Assim, a mesma loira escutou o mesmo caso, um mês depois, como a boneca estando na família da menina há 9 gerações. Nos apoiamos em ficções quando nossa realidade não vai tão bem.
  E Molar não entendia sua história. Segundo Dona Clávis, que sempre vinha uma vez por semana com seu coque impecável e seu batom laranja da cor do cabelo da boneca quando limpo, a menina fora encontrada numa manta com a boneca, na porta do Instituto. 
  Mas ela preferia não questionar as coisas. 
  Ao invés de se estender nesses assuntos, Molar pegou a boneca, foi ao pátio do Instituto e pôs-se a brincar feliz da vida.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Ato Opaco

É paz? – Ele pensa
Essa confusão, essa confluência enigmática que perturba a alma...
Não pode ser paz.
É indecisão, então?
O mesmo fatídico fato que sempre se repete...
Que sempre insiste em se manifestar...

Desvão. Em silêncio, ele cai.
Um mundo por seres obscuros habitado.
E o assombram todos de uma vez
Monstros que desde o início acompanham a humanidade.
Medo, moça, isso que ele sente.
Por isso a luz turva. Pra esconder.

A máscara de Arlequim o cobre a metade do rosto
A de Jekyll cobre a outra.
Numa escuridão burtônica
O moço se dissolve e a aquarela perde a cor.

Do mirante submerso olha o horizonte das memórias.
Ainda vale à pena?
Shhhhhh…
Be quiet, my dear, be quiet.

Pois isso nunca vai mudar, vai?


(...)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Ensaio do autor sobre o Novo

  O novo. Na virada de ano as pessoas recepcionam o ano novo com disposição e esperança. Por quê?
  Por que existem tantas variações de como as pessoas encaram o novo em outros pontos da vida? Novo pode ser amedrontador. Novo pode ser chance. Pode ser triste, feliz. Tudo dependendo da forma como for encarado. Não estou aqui para fazer estudo sociológico ou nada parecido, afinal não sou ninguém nessa área para que possa ficar dando uma de cientista social. Sou um mero escritor sonhador, que observa alguns detalhes do mundo ao seu redor.
  O medo que muitos têm em relação ao novo desaparece no Reveillon. Me pergunto o motivo. A leve amnésia que a adrenalina da contagem regressiva provoca? O álcool? As superstições? As promessas? Não acho que esteja entre estes. A energia que flui no fim de ano, englobando também o Natal é bastante incomum e eu sempre tenho a oportunidade de vivenciar provas disso. Atos incomuns de ajuda e amor são feitos sem pensar muito. As pessoas ficam mais humanas. Como não acreditar que há qualquer coisa além de nós, ao menos nessa época?
  Mas não quero convencer ninguém de nada. O Novo decerto é algo diferente. 
  Aposto que você que perde seu tempo lendo essa merda aqui (há outras coisas bem melhores neste blog, perca seu tempo com elas - cada palavra sublinhada é um link pra um texto melhor, meu leitor, isso é só uma inflexão que quis compartilhar com algum louco qualquer) tem alguns planos e sonhos pra 2014. Espera uma reviravolta na sua vida, seja a financeira, a emocional. É bom que lembre então de recepcionar essas mudanças que tanto almeja como recepcionou o novo ano. Não digo pra festejar com champanhe e fogos de artifício, mas lembre-se da sensação que teve diante do Novo que é o ano de 2014.