Molar queria muito, muito, muito viajar nas costas de uma borboleta.
As criaturas rondavam a campina. E a música animada produzida pelas Pedras se infiltrava em cada ser.
Cada uma era mais bonita que a outra e cada uma era bonita à sua forma. Mesmo os cascudos sirilões ou os craquelados peixes-fora-d'água com seus aquários na cabeça eram bonitos. E rodavam ao redor deles borboletas de todas as cores e tamanhos que poderiam existir. Inclusive, a Borboleta Mãe, que sobrevoava tudo aquilo com sua envergadura de três metros e com as asas mais detalhadas que qualquer outro ser. Os seres humanos se dividiam entre adeptos da magia e leigos, que tinham ido até lá apenas pra checar os produtos que existiam. Pequenos preás com suas roupinhas de algodão verde e rosa, de modelo rebuscado, cheias de dobras e redobras corriam sob os pés de todos, apressados em resolver suas questões. De uma carruagem amarelo canário desceu a tão temida máfia dos pinguins, sérios, altivos e engravatados. Os simpáticos bus, cuja estrutura física não passava de bolas flutuantes de pelo multicor, esvoaçavam por todo o canto e um deles até entrou na garganta do mais idoso dos sacis, que engasgou e morreu, virando pó levíssimo e vermelho, que demorou dois dias pra se dispersar. E, no meio de tudo aquilo, a pequena Molar, segurando na mão sua boneca de trapo com os olhos de botões desiguais.
Ela subiu numa árvore e começou a observar as atividades. A Dama de Sete Metros se agachava nesse exato momento. Pegou uma grande rede de caçar borboletas e começou a rir e correr, querendo pegar na rede a Borboleta Mãe, fazendo o chão tremer e a barraca de uma tamanduá cair. Cinquenta crianças de todos os tipos se encontravam sentadas, escutando as histórias contadas pelo Professor Tatu, o ser mais falante da feira.
Molar sorriu e teve certeza que ali era seu lugar. Desde que seguira o bu aparecera para ela, brilhando e dançando no seu quarto abafado do orfanato, pela abissal floresta de grama, ela descobrira o mundo e escalara até a cabeça de um gigante. E A Dama estava quase pegando a gigante borboleta.
Estava feliz. E nada ia tirar isso dela.
A Dama de Sete Metros finalmente consegui pegar a Borboleta Mãe, que se transformou em mil borboletas coloridas que vieram levantar Molar da árvore levá-la para mais um passeio maravilhoso, nas costas de mil borboletas, ao invés de uma só.
(...)